quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Opinião: "Eu sou Deus" de Pedro Chagas Freitas [Chiado Editora]


Pedro Chagas Freitas é um dos escritores portugueses da nossa atualidade, que é simplesmente GENIAL.

Sendo assim, o que esperar deste livro de crónicas?
Este livro, faz-nos pensar sobre variadíssimos assuntos da nossa sociedade com uma linguagem extremamente acessível e compreensível (penso que será esse um dos segredos do seu sucesso).

Posto isto, deixo-vos com alguns excertos das crónicas de Pedro Chagas Freitas (2014), para que também possam reflectir um pouco:

«Se somos todos diferentes, é natural que tenhamos formas diferentes de ser. De ser, de estar, de fazer - até de amar. Somos diferentes. E todas as pessoas são diferentes. E têm gostos diferentes. Então agora pensa comigo: se todas as pessoas são diferentes, achas possível haver pessoas que se dão bem com toda a gente que conhecem - e se dizem amigas de todas elas? É estranho - dizes tu. É mentira, digo eu. E é assustador. Fixa bem: as pessoas que têm muitos amigos são más pessoas. Mais: péssimas pessoas. Corrijo: monstros - verdadeiros animais. quem é amigo de toda a gente não é amigo de ninguém. Amizade é séria demais, é bela demais - para poder ser partilhada com muitas pessoas (e muito menos: por muitas e diferentes pessoas).»


«São estranhas, as pessoas que não são estranhas.
O mais estranho, nas pessoas normais, é a sua normalidade. Uma normalidade passiva - mas que ainda assim não deixa de ser activa. Para uma pessoa normal, ser normal é uma missão. Ser banal é um desafio. E ler - e entender - o que eu escrevo é uma impossibilidade.»


«Não é por falta de valores que estamos a morrer. Nem sequer é por falta de valor. Não é pela economia, pelas finanças, pela educação. Muito menos pelo governo, pelos políticos, pelos salários monstruosos dos alguns de cima face aos salários igualmente monstruosos dos todos de baixo. Não. Não é por isso que estamos, enquanto sociedade, a morrer. E é isso que, todos os dias, me está a mortificar.
A falta de respeito é o problema do mundo. Respeito por mim, por ti, pelo cego que canta e pede esmola, pelo gato vadio que se atravessa numa estrada. Já não há respeito. Já não há respeito porque tudo deixou de nos dizer respeito. É tudo distante, é tudo lá - e nunca cá. E a sociedade global que nos venderam como uma aldeia global é, na verdade, uma sociedade visceral - uma sociedade de trampa. A aldeia global, apesar de unir (e eu e o mundo estamos à distância de um clique), aparta - aparte irreversivelmente. E eu e o mundo, apesar de estarmos à distância de um clique, não passamos disso - não passamos de estar à distância de um clique.»


«É A VIDA QUE TEM DE TRATAR DE TI, É A VIDA QUE TEM DE TE RESPEITAR. MAS PARA ISSO TENS DE TE DAR AO RESPEITO. TENS DE LHE DIZER "NÃO" QUANDO ELA TE QUER MAGOAR, TENS DE LHE DIZER "VAI À MERDA" QUANDO ELA TE QUISER ATIRAR PARA A MERDA. MANDAR A VIDA À MERDA É A ÚNICA MANEIRA QUE TENS DE EVITAR QUE A TUA VIDA SEJA UMA MERDA. MERDA!»


«A sociedade está de pernas para o ar e o mundo está de números para o ar. O que faz com que aquilo que interessa seja, mais do que as pessoas, os números. E os números dizem que, por eles, é preciso sacrificar as pessoas. Nada mais simples: a criatura está aniquilar o criador. Sim: as pessoas fizeram os números. E agora são os números a desfazer as pessoas.»


«Sem meias medidas: és a pessoa mais importante da tua vida. Só quando entenderes limpidamente isso - e agires em função desse entendimento - é que poderás estar à altura de seres a segunda pessoa mais importante da vida de alguém.
É esse o teu lugar de fora para dentro: segunda posição - na melhor das possibilidades. O resto - as tretas que se escrevem em postais de amor e em livros de dez à coroa - é paleio de quem ganha a vida a querer salvar a vida dos outros. Para salvar a sua, claro.»

1 comentário: