O CEMITÉRIO DOS AMORES VIVOS Novo romance do jornalista Jorge Araújo - 12 fevereiro nas livrarias - Deixei-me ficar, as mãos enfiadas no mais fundo dos bolsos, os dedos a aconchegarem as arestas do mau agoiro. O olhar ajoelhado ao peso do destino. (…) Desde que recebi aquele telegrama, não penso em mais nada, a voz de dentro não se cala, as palavras morrem-me nos lábios, falam mais alto mas não querem ser grito, apenas pensamento. Tinha tanta coisa para lhe dizer, imaginara o discurso mas, no fundo, sabia que acabaria por quase nada falar. O que é que se diz a uma pessoa que se ama, que se ama assim, que se ama tanto que até se odeia, que se ama e odeia no mesmo respirar? (…) ─ Um telegrama do meu filho? ─ A incredulidade a estender o tapete vermelho ao pavor. O meu filho. (…) Não vejo o meu filho, o meu único filho, há mais de dezassete anos, três meses e vinte e três dias - sou fraco a matemática, mas nunca me engano na aritmética dos sentimentos. (…) ─ O teu pai morreu...